Para 50 milhões de brasileiros, ter rádio ou televisor em casa não significa ter acesso a conteúdo local, principalmente de informação.
Levantamento do Atlas da Notícia mostra que 25% da população do país vive em municípios sem emissoras locais de radiodifusão (rádio e televisão).
Quando muito, têm retransmissoras do conteúdo de rede nacional ou regional. O resultado é semelhante ao levantamento do Atlas em novembro, que apontou um “deserto” de jornais impressos e sites para 70 milhões.
O Atlas da Notícia é um estudo do Projor (Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo) com a agência de jornalismo de dados Volt Data Lab.
É inspirado no projeto de “desertos de notícias” americanos da Columbia Journalism Review, veículo ligado à Universidade Columbia.
Para Angela Pimenta, presidente do Projor, “quanto menor a cidade, maior a tendência de que não haja jornalismo, e é claro que isso é preocupante”.
Sérgio Spagnuolo, editor da Volt, chama a atenção para o impacto concreto: “Quem está cobrindo a vida cívica local? E o buraco na rua?”.
O estudo de radiodifusão cruzou dados obtidos através de contribuição online (crowdsourcing) com os registros do Ministério das Comunicações.
Uma edição ampliada e revisada do Atlas, tanto para jornais e sites como para rádio e televisão, já está programada para o final deste ano.
Além do levantamento quantitativo, foi prevista também uma série de reportagens, para um estudo qualitativo das cinco regiões do país.
O projeto, que é apoiado pelo Facebook, contratou para tanto a jornalista Elvira Lobato --que cobriu o setor até 2011 na Folha, onde trabalhou por 27 anos.
Ela deve visitar cidades como a mineira Mariana e as alagoanas Arapiraca e Palmeira dos Índios, para retratar seus jornais, sites e emissoras.
Lobato, que lançou em novembro o livro “Antenas da Floresta” (Objetiva, 360 págs.), sobre TVs na Amazônia, pretende repetir o processo, que mudou sua visão.
Por exemplo, ela hoje vê qualidades no conteúdo de emissoras locais de políticos. “Ele não exerce controle em tempo integral, o ano todo”, diz.
Fonte: Folha de São Paulo