No começo de julho, o Ministério das Comunicações acionou secretarias e departamentos para que voltem a estudar a Digitalização do rádio FM, tema que o governo guarda na gaveta há cerca de um ano.O ministério ainda não sabe se para digitalizar será preciso desocupar faixa, por exemplo. Mas são esperados benefícios, como ampliação do sinal, qualidade de transmissão e melhor uso do espectro.
“A digitalização ficou em segundo plano por causa da migração [de AM para FM], mas isso não impede a digitalização do FM em transmissão e recepção. Descartar a digitalização é como imaginar o celular no sistema analógico”, disse ao Valor, Paulo Machado de Carvalho Neto, sócio e diretor da Rede Jovem Pan, e presidente da Associação das Emissoras de Rádio e Televisão de São Paulo (AESP).
Mas, para Eduardo Cappia, diretor de rádio da Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão (SET), não há futuro para a digitalização. “A internet já transmite o conteúdo do rádio, o que dispensaria esse movimento”, diz ele. A questão, afirma Cappia, não é só o aparelho, mas o próprio conteúdo, que pode ser acessado de várias maneiras. Um exemplo é o motorista que pode obter informações sobre o trânsito em seu celular.
O aparelho de rádio tradicional vem sofrendo concorrência de outros meios, como o próprio celular, que tem receptor FM embutido – exceto o iPhone da Apple, que não tem a função liberada pela empresa -, tocadores de música, como o iPod, a TV por assinatura e o rádio híbrido, que capta a transmissão por ar e por aplicativo.
“Nossa grande luta é para que o rádio seja gratuito também no iPhone”, disse Cappia. “Tentamos sensibilizar as teles, porque elas têm de concordar em perder [receita] os dados pela recepção”.
O ápice do interesse mundial no assunto foi entre 2004 e 2006, quando a internet ainda engatinhava. No Brasil, foram feitos testes de dois sistemas, mas depois o assunto esfriou.
“Nos EUA, só 15% das emissoras optaram pela digitalização”, disse Cappia. A tecnologia digital adotada no país foi IBOC (sigla em inglês para In-Band O-Channel), mais voltada para FM. Para AM, a opção tecnológica seria DRM (Digital Radio Mondiale), de padrão aberto. A baixa adesão nos EUA desestimulou o governo brasileiro”, disse ele.
Em relação à digitalização do rádio, o grupo Globo participou das primeiras experiências com os sistemas no Brasil (IBOC e DRM). “Entendemos que ambos têm prós e contras, estamos acompanhando com atenção os testes e avaliando custos e benefícios”, informou Irene Junqueira, diretora de Negócios Musicais e Mídias Digitais do Sistema Globo de Rádio.
Para o grupo Globo, o meio digital pode vir a ser mais relevante do que o próprio rádio digital. “Os aplicativos podem se tornar um substituto natural dos rádios, por exemplo, integrados aos carros e a outros dispositivos conectados. No meio digital é possível trabalhar melhor para adaptar os serviços aos clientes, e o segmento sob demanda ganha força”, disse Irene.
“O off-line continua sendo importante e ainda tem uma enorme penetração no Brasil, mas podemos observar um grande crescimento no consumo das mídias digitais”, disse a executiva.
FONTE: SITE BIQUAD