A notícia que a multinacional de monitoramento de rádio Crowley Broadcast Analysis divulgou o seu relatório anual a respeito da programação das rádios brasileiras provocou uma onda de “mimimis” por parte dos “roqueiros” brazucas, inconformados com o fato de que na relação das 100 canções mais executadas no Brasil em 2015, 75 são da turma do “sertanejo dor de corno”, seja ele ‘universitário’ ou ‘ginasiano’ mesmo. Ah, uma enxada na mão desta gente renderia um monte de terrenos baldios perfeitamente capinados…
É inacreditável que este tipo de gente ainda não tenha percebido o que o rádio se tornou hoje em dia. O que se tem hoje no dial, salvo programas específicos – como aqueles que apresento na Rádio USP FM, o Rock Brazuca e o Agente 93 -, é um misto de gritaria de pastores evangélicos picaretas, música para sacudir a bunda e propaganda. Nada além disto. Se indignar pelo fato de não ter rock na lista é passar atestado de pouca conexão com a realidade.
Pior é acreditar que o rock ainda é um gênero que realça a postura de afirmação dos jovens. Tal pensamento é digno de escárnio, principalmente em um mundo, como bem definiu o amigo André Barcinski, “recheado de Bonos, Coldplays, rockstars bonzinhos e saladas de tofu”. Com um bundamolismo generalizado no planeta, como ser objeto de transformação de qualquer coisa?
O fato de um sujeito como Luan Santana emplacar uma canção horrível como “Escreve Aí” como a música mais tocada é simplesmente o reflexo do emburrecimento coletivo que vive o Brasil. Aliás, a lista inteira é o retrato da pavorosa qualidade das canções popularescas que se faz no País nos dias de hoje e, principalmente, espelha a baixíssima qualidade dos ouvintes. E ainda devemos dar graças a Deus por ouvirmos nas emissoras musicais uma deliciosa canção como “Happy”, do Pharrell Williams, uma das poucas canções pop a fazer parte da tal lista.
Quando você tem pelo menos duas gerações de jovens se espelhando em tipos como Wesley Safadão, Anitta e MC Biel, não dá para fazer muita coisa além de comprovar que a experiência humana na Terra deu errado no Brasil. Em um país onde se busca sucesso e prestígio a qualquer preço, é possível entender perfeitamente claramente a descartabilidade musical que a audiência das rádios em geral glorifica. Novos artistas não estão nem aí em construir uma carreira discográfica sólida, a ponto de ser admirada no futuro. Nada disto! O importante é faturar agora. Ainda mais porque fãs idiotas e consumidores impulsivos são fontes de rendimentos seguras.
Além disto, nunca houve no Brasil uma pluralização de audiência que permitisse a solidificação de determinados segmentos dentro do rádio. Sim a verdade é dura e você tem que aceitar: rock sempre foi coisa de gueto. Nunca foi mainstream. Ainda mais hoje, em que o rock abriu mão de duas características essenciais para sua absorção por parte de outros públicos: não tem refrão e não faz sacudir o esqueleto. Exatamente o contrário do que faz a turma popularesca. É como se o gênero procurasse deliberadamente se afastar de qualquer coisa que possa ser rotulada como “popular”. Assim também não dá, né?
Voltarei a escrever a respeito deste assunto em um texto futuro. Não quero me estender aqui a ponto de escrever uma tese de mestrado. Por enquanto, termino por aqui fazendo uma pequena pergunta a você: é o povo que só gosta daquilo que é tocado na rádio ou é o rádio que só toca aquilo que o povo quer ouvir? Pense nisto.
COLUNA ESCRITO POR REGIS TADEU NO SITE YAHOO.